. ARTIGOS: "O MEDO DE EXISTIR"

Ofereceram-me de surpresa um livro e qual o meu espanto em constatar à medida que me embrenho na sua leitura que afinal de contas não sou assim tão doido. Já várias pessoas mo haviam aconselhado e provavelmente terá sido um livro com alguma tendência para moda alternativa; o facto é que me revejo e sinto afinidade independentemente da altura, das modas e do que é ou não é. Provavelmente muitos dirão que as coisas já não são o que eram como quando o livro foi escrito - pois continuam a ser infelizmente.

Na altura em que surgiu não lhe dei importância; andava obcecado a tentar recuperar o tempo desperdiçado em não leitura, ou seja, tentava ler pelo menos alguns dos clássicos para tentar acompanhar a locomotiva dos literários porque sou de leitura atrasada; pensei ser mais uma moda que de futuro se mostraria oca, apenas um chamariz. Não concordo comigo. Agora sou eu que o aconselho. Portugal e o Medo de Existir de José Gil.

Quem mo ofereceu disse-me que escrevia complicado, que os tempos de hoje o não permitiam. Retorqui que para se entrar na cabeça do português uma linguagem simples não é eficaz no seu objectivo em atingir o receptor. Continuei:... a escrita frontal é análoga a um choque para quem esteja num estado letárgico qual sonâmbulo abruptamente acordado ou demasiado desagradável para que a leitura seja continuada.
Disse que existe um medo ao vazio, um impelir a um barroco que ocupe e preencha saturando esse pressentido espaço de nada, ou pelo menos o que aparentemente se ache nada.

Despreocupando-me dessa hipótese e película sensível penso que ora choque ora não choque é preferível, caso se queira mudar alguma coisa, encarar-se uma hipótese como desagradável discernindo pois os contextos que nos rodeiam focando a melhoria e uma defesa à liberdade de direito em existir individualmente em colectivo.

Em máxima instância num progressivo de sociedade, o conhecimento, o debate, a informação, são os pilares dessa mesma sociedade.
Vou tentar ser frontal em frases o máximo breves:

- Respira-se medo, «medo de existir»
- O medo é o centro gravitacional do genérico das actividades sociais;
- A resignação é o mote instaurado, viciado corrompido em núcleos que zelam pela sua sobrevivência, desse pseudo bem-estar;

- A contestação é feita às escondidas sob o domínio de outra personalidade que em público finge que não a conhece.

- O substantivo contestação é equivalente em trama psicológica à destabilização dum qualquer nicho fechado réplica de contextos passados onde os escondidos não sabem que a guerra, uma guerra já passada, não existe (uma guerra do medo de pôr em risco a sobrevivência, de fobia psicológica invisível, de conseguir estar vivo num campo de concentração se bem que não existam vigilantes, existe o medo dalgum despoletar duma qualquer arma não se sabe vindo donde: sempre inimigo asbtracto, turvo, invisível, intocável, aventesma, espectral, contaminante); por assim dizer esse tal nicho foi confrontado, contestou-se, pôs-se em causa o seu domínio exercido, o seu poder foi subjectivado, pôs-se em risco de existência tangível e relevância necessárias essa não se sabe qualquer coisa mete medo que fica tão a proveito dalguns: aqueles que o alimentam.

- A democracia é um bicho esquisito que não se conhece lá muito bem; pensou-se que era uma filosofia «salvadora» mas parece que ainda não é desta que uma sociedade perfeita teocentrista chegou.

- Conhecer-se é tabu exceptuando o que é dogma. Afundam-se aqueles que tentam (porque a viscosidade é superior de massa) reflectir e ou alterar as regras existentes (genericamente: de forma alguma instrospectadas, ou se tal de tangente) para um sentido objectivo “comunitariamente social”, isto é, o que é bom não exclusivamente para um núcleo «eleito», o que é efectivamente saudável para um bem chamado sociedade que só se define se for considerada como um conjunto que em rede se inter-apoia e cresce, matura, aprende, por aí adiante até aos pontos do utópico e dum futuro que se crê melhor como enriquecimento e responsabilidade da espécie humana (continua na potência de se ir caminhando para um futuro)...

Logo depois de apresentado este pequeno conceito de ideologia social é minuciosamente e em relâmpago associado a uma tendência de esquerda (confundindo-se querelas, movimentos, partidos políticos, partidários religiosos e ou tribalistas), esquecendo-se essa quase espontânea interpretação de que independentemente da inclinação política existe um conceito democrático e de potência em igualdade, pelo menos a mínima comum igualdade básica e pilar à evolução construtivista humana.

Até mesmo estas palavras últimas suscitam sob a forma de réplicas de ondas dum tal abstracto, um calafrio, uma repulsa, uma associação a nulidade, a pequenez, a infantilidade adulta (José Gil), ao capricho, a insolência e toda a adjectivação imaginável que destrone esse mesmo trampolim que enriqueça o significado filosófico do indivíduo e pessoa.

Outro ponto: não é alimentada uma coesão, não existe alimentar-se a consciência do outro (porque não existe a alimentação duma consciência individual), exceptuando raras excepções que ou se aborrecem do estado nacional, sucumbem ao tal «autismo», transformam-se em pequenas partículas desse misterioso abstracto medo dos bloqueios e dos traumas e do espezinhamento do eu ou adaptam-se e jogam vidas paralelas num «fio de uma navalha» (S. Maughan).

O conceito de mudança está em sintonia com uma esperança depositada num sacrifício ou método para suportar o dia-a-dia que aguarda o agente grande e megalómano que venha alterar os factos pela contribuição do sacrifício do cidadão prestado diariamente: esse deus que fala pela voz dos auto-portavozes; caso então não apareça o sacrifício não terá sido suficiente e a flagelação ou a atribuição dum bode expiatório será o rito para que o tal gigante megalómano aparentado de D. Sebastião altere esse marasmo da injustiça, da insegurança, da carência, coisa que nunca acontecerá a não ser por fenómenos estratégicos e mágicos daquele que analisa antropologicamente Portugal e vê aí as tais riquezas da antiga finisterra, da península do ouro e dos metais outrora cobiçados por mil e um povos.

A nível interno, os exclusivos "porta-vozes", intermediários de comunicação com o tal gigante que mete medo e é maior do que tudo existente no mundo exceptuando a este país que não se sabe porquê ganhou afinidade e carinho (a crédito), são os cirurgiões dos estados emocionais e psíquicos do comum, porquê? porque ele o povinho o tal ignorante, nunca estará ao nível de poder sequer alguma vez na vida comunicar com o gigante - está construido assim o muro das lamentações, o confessionário e a fragmentação social. E refiro-me não apenas à metáfora da igreja porque paira presentemente no quotidiano como força, mas também ao fosso que por casualidade está associado ao poder religioso, vinculado pelas discrepâncias económicas e culturais que por consequência se tornam discrepâncias sociais. Ou seja, senhor e vassalo são ciclos gerados pelo abuso e pelo consentimento até mesmo instigação a : qual pescadinha de rabo na boca.

A intervenção individual sucumbe ao isolamento e sucumbe por uma força que é ténue contra uma superstição quase genérica, teia misteriosa de mais medos, mais senhores doutores e mais labregos (atenção que são auto-alcunhas de baptismo - o doutor promove-se a, e o não doutor promove-se a labrego por condição - um sistema de castas resumindo, auto-castas ciclicas que se dialogam resultando numa rotina repetitiva).

Dói demasiado este peso da aceitação duma realidade que esmaga quais tenazes humanas, quais tenazes humanas? As dos outros. E as nossas? Desculpáveis. E as dos outros? Imperdoáveis. E aprender-se com isso? Repete-se a fórmula.
É um processo paralelo a uma intoxicação, uma ressaca, um vício; mas centenas senão milhares sucumbem diariamente à exclusão pelo que está pirronicamente estabelecido.
Questiono não sem que isso me estrangule primeiro por tantas vezes continuadamente no passado e no presente ter-me sufocado, quantos perdem esse fôlego de querer crescer, conhecer, aprender, ser pessoas. Quantas tristezas nascem fadadas diariamente.

Imediatamente disparo, não deixando de arriscar perder a sensibilidade e deixar-me vacilar nessa morte ideológica lenta, para o fim das vidas de cada um - os lares, esses antros de morte final, essas pocilgas vegetais, esse nojento fado que se desculpa e mascara de fase final. Os nossos velhos morrem tristes em cada segundo. A economia define a "qualidade de vida final de cada um". Coisa mais horrível de se dizer. Coisa mais horrível que acontece.

Vive-se uma ignorância que é estimulada nos mais variados pontos que obrigatoriamente deveriam ser CULTURAIS mas também economicamente e democraticamente culturais.

Resumidamente, um parasita ou ludibriador suga ou engana o que teima em ser crédulo num sistema ao qual não se pergunta nem se tem resposta. Esse parasita podemos ser nós mesmos.

A negligência, refiro-me à isenção de intervenção aquando da presenciação de algo incorrecto por parte de entidades associadas a poder, refiro-me à submissão crónica compactuante com a injustiça de atitudes por parte daqueles que têm um «poder» (económico, psicológico, chantangiante, etc.) sobre aquele que foi descaradamente injustiçado.
Refiro-me a esse compactuar, esse amolecimento, essa compreensão quase contrabalançada cientificamente, esse grau cirúrgico de absolvição ao tal que é «chefe» ou subordinante, isso tudo quando se sente ameaçada a hipótese de apadrinhamento do chefe, o tangente a uma aceitação, o acolhimento como se de familiares se tratassem, (o chefe - atenção que ser-se chefe não é intrínseco a ser-se abusador de poder, culturalmente faz-se por isso - acolherá o empregado depois deste ter executado e continuando a executar intermináveis tarefas jesuíticas) ataca feroz qual vassalo de sangue aquele que ousou desequilibrar o ecossistema engendrado pela figura superior, por esse mentor cruel, tirânico e mesquinho que faz estratégias ao debaixo.

O vínculo de um registo, o assumir de um acto (a inscrição de José Gil) à responsabilidade da atitude, a incorporação desse eu que intrinsecamente interage com o meio exterior e matura-se com a noção de si mesmo (em antagonismo existe o ultra escarafunchar nos erros dos outros, essa noção do eu que extrinsecamente possui a personalidade do outro delineando um papel de consciência ou juiz acabando por o levar à conclusão - o eu parasitado - de que o erro minúcia feito destrona todo o positivo e construtivista anterior) são conceitos associados a um jogo que pretende atirar para cima dos outros o que se tem (em sensação) nas mãos. Joga-se portanto à bola balizando o não ter responsabilidade nem registo nem acto.

Portugal é fanático por impulso primeiro nos seus juízos de extremos que oscilam em micro fracções de segundo. Ser-se marioneta conduzido por um maestro que se diz senso comum é um eco generalizado à submissão duma supremacia em pedagogia ditatorial.
O que acontece quando se reage contra esses ecos do passado? Qual a sua consistência de matéria «física» aquando dessa reacção? que teor de veracidade existe em sua capacidade de influência e manobra social?
Vamos medir: experimentem reivindicar os vossos direitos, no mais básico dos direitos, não sem eantes evitar cometer o erro de misturar esses direitos como se fossem uma regalia, ou benesse ou sinónimo de amistosidade daquele que detém a capacidade de atribuir ou não esse mesmo direito a vós. Encarem essa direito como se de água cristalina fosse, como se não necessitassem de pedir licença para urinar numa sanita, como se não necessitassem de pedir licença para respirar oxigénio. Vejam aquele que o faz naturalmente, ou seja, já não reivindica, toma por natural e intrínseco à sociedade democrática onde está inserido e analisem as reacções. Sugiro incorporar-se esse conceito de direito, antes conhecendo-o.

Quais são as consequências dessas réplicas no presente? (viscosidade laboral). Uma libertação individual está presa na pedagogia bacoca instaurada.
Contrariar esse eu que se depositou num vazio sentido por uma personalidade considerada inexistente. Esse que se depositou como se de unguento se tratasse à cura da não personalidade e do não eu, desse espezinhamento num menino que se fez crer feio e mau destituindo-o assim de libertação de carácter - viciando-o a sentir -se bem consigo mesmo na presença dum tal juíz ou atribuidor de virtudes ou não virtudes.

A dualidade "ser-social" transforma-se na necessidade de existir sob a forma de submissão, e em reverso a hipótese provável de se cair num "precipício" de isolamento o que em grosso modo impele o novamente ser-se submisso ou então compactuante.

Existe em conclusão a não consciência de que o esforço e resultados práticos colectivos multiplicam-se na práitca e na perduração. Da mesma forma que se cria um vício poder-se-ia criar o hábito de agir colectivamente em parcelas ínfimas que num todo ganham forma e consistência para embate ou mudança.

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