. Trecho de livro: Cavalos Voadores
Apresento um trecho do livro ainda não editado "Cavalos Voadores", do escritor José Guille. Panorâmica cómica e satírica alusiva a imagens de cartoon, faz-me sentir uma pândega ao funcionamento absurdamente emperrado do sistema que nos acolhe tal como sua abstracta e não inscrita cultura.
"CORRIDA DE PALAVRAS
Empatada, vencedora, segundo-lugar e última – eram as quatro palavras preparadas na linha de partida.
A gra*má*tica estava pronta para dar início à corrida.
– Largar! Exclamou a ditosa autoridade.
Por absurdo que pareça, eu vi empate colocar-se na dianteira, logo seguida de última, segundo-lugar, e vencedora atrás.
A prova estava a decorrer num caderno pautado, com sessenta e cinco páginas, mais ou menos.
Quando chegaram aos agrafos do meio, na página quarenta e quase, a ordem das corredoras estava alterada: última ia à frente, seguida de empate, segundo-lugar, e vencedora no fim.
Na página quarenta e cinco e meio, das margens do caderno, uma espectadora [a palavra tropeçar] ainda hoje não se sabe porquê, saltou para a pista e, vencedora que ia à frente, para não chocar com a inesperada fã que se lhe colocara na trajectória, ao desviar-se, despistou-se, caindo do caderno para fora.
Veio a borracha jurisdicional, e por um quase nada, ia-a apagando. Estava praticamente eliminada.
Devido ao estado em que ficou, foi levada para o banco de urgências da biblioteca mais próxima, continuando a corrida sem interrupção.
Neste ponto, já perto da página cinquenta e cinco, última ia em primeiro, seguida de empate, e segundo-lugar no fim.
Ao virarem a página cinquenta e oito, caíram num inesperado precipício, para fora do caderno, e antes de chegarem à página oitenta, onde era suposto a palavra fim estar a aguardá-las, descarrilaram…
O censor da imaginação, nomeado pela Sebenta Académica da Leiculdade de Letras [sob a direcção do Director da Torre do Estrondo] exemplar funcionário ao serviço do RGP – Regulamento General Palavroso, tinha arrancado a última folha, por ordem do Conciliábulo das Enciclopédias Catedráticas. Era mais uma revisão em c’urso.
Os números, que assistiam na bancada da tabuada promulgada, riram estridentemente, e até bateram palminhas, chilreando Slot Tlin Tlins.
Foi quando, irritadas com tanta chavalada numérica, as palavras que assistiam nas margens das páginas do caderno de corridas, saltaram para a pista, fluentes, rasgando o recinto onde decorreria a dis*puta*da prova.
As mautoridade$ – brrrr – tremeram de medo.
"CORRIDA DE PALAVRAS
Empatada, vencedora, segundo-lugar e última – eram as quatro palavras preparadas na linha de partida.
A gra*má*tica estava pronta para dar início à corrida.
– Largar! Exclamou a ditosa autoridade.
Por absurdo que pareça, eu vi empate colocar-se na dianteira, logo seguida de última, segundo-lugar, e vencedora atrás.
A prova estava a decorrer num caderno pautado, com sessenta e cinco páginas, mais ou menos.
Quando chegaram aos agrafos do meio, na página quarenta e quase, a ordem das corredoras estava alterada: última ia à frente, seguida de empate, segundo-lugar, e vencedora no fim.
Na página quarenta e cinco e meio, das margens do caderno, uma espectadora [a palavra tropeçar] ainda hoje não se sabe porquê, saltou para a pista e, vencedora que ia à frente, para não chocar com a inesperada fã que se lhe colocara na trajectória, ao desviar-se, despistou-se, caindo do caderno para fora.
Veio a borracha jurisdicional, e por um quase nada, ia-a apagando. Estava praticamente eliminada.
Devido ao estado em que ficou, foi levada para o banco de urgências da biblioteca mais próxima, continuando a corrida sem interrupção.
Neste ponto, já perto da página cinquenta e cinco, última ia em primeiro, seguida de empate, e segundo-lugar no fim.
Ao virarem a página cinquenta e oito, caíram num inesperado precipício, para fora do caderno, e antes de chegarem à página oitenta, onde era suposto a palavra fim estar a aguardá-las, descarrilaram…
O censor da imaginação, nomeado pela Sebenta Académica da Leiculdade de Letras [sob a direcção do Director da Torre do Estrondo] exemplar funcionário ao serviço do RGP – Regulamento General Palavroso, tinha arrancado a última folha, por ordem do Conciliábulo das Enciclopédias Catedráticas. Era mais uma revisão em c’urso.
Os números, que assistiam na bancada da tabuada promulgada, riram estridentemente, e até bateram palminhas, chilreando Slot Tlin Tlins.
Foi quando, irritadas com tanta chavalada numérica, as palavras que assistiam nas margens das páginas do caderno de corridas, saltaram para a pista, fluentes, rasgando o recinto onde decorreria a dis*puta*da prova.
As mautoridade$ – brrrr – tremeram de medo.
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