Walk - Shazanah Hassan / Música - Erik Satie
Lia um artigo sobre o que se tem passado no nosso sistema de saúde. Escrevia-se sobre alguém que havia sofrido de um tumor cerebral a quem tinha sido rejeitada a reforma por invalidez. Não discerni ainda se se possa tratar duma ficção.
Mas persigo a minha reacção totalmente naive sobre a primeira impressão. Este foi o texto que resolvi escrever como forma de expressão sobre o eventual caso:
Alguéns e números às nuances do vento do escapulir da consciência. Esse português com quem eu falo e sorrio, esse que compactua comigo na indignação.
Esse alguém com quem eu falo e sorrio, que compactua comigo na indignação poderá assinar um papelinho por causa do chefe que assim o manda por ter sido mandado por aquele que o mandou que veio lá de cima do governo, assina o papelinho e o outro alguém esfarrapado, desalentado e fraquinho sente como se fosse uma espada que trespassa o resquício da vontade essa esferográfica soberana e viril que rasga, faz a penitência duma assinatura ou do baque do carimbo.
Dois passos depois esse alguém das esferográficas mete cuspo no dedo, trejeita o nariz compondo os óculos que escorregam, rumina para dentro que nada pode fazer, agarra noutro papel e põe em riste a esferográfica. Lamuria como quem geme quando fala, impõe-se escondido na capa do assim que é assim, e das ordens que recebe, tenta descobrir um calcanhar de Aquiles com quem fala, morde-o e prende-o por estar fraquinho à espera dum carinho social.
Justifica para si mesmo o defeito do outro alguém fraco, vale-se dos bons costumes e das morais e justiças divinas, sonda no seu inconsciente que existe alguém conhecido ou amigo que o valha nalguma situação mais periclitante de saúde - per si e para os seus. Alivia-se e baixa as orelhas ao chefinho da repartiçãozinha, mais o cargozinho e o carrinho e os inhos todos pelo recto acima.
O alguém mais acima borra-se nas cuecas de júbilo pelos doutores, roça-se nas calças em altiva subserviência, faz uma careta trágica à pergunta, compactua com a indignação, descarta responsabilidades, esmera-se na protecção da castidade da estatística isente, sua pela obediência e pela recompensa dum afago.
O outro vai para casa, desespera fundo, arrasta-se nos pés, sente-se órfão de pais, tenta descobrir lá nos fundos do absurdo uma razão para poder enfrentar uma hora de agonia. Recebe algum amparo de amigos, procura o momento da não existência pensante, carrega-se para a corrente do adormecer. Ouve outros alguéns na televisão que representam papéis de pessoas importantes, que se dizem e se fazem acreditar de senhores do respeito e do mais saber. Se elas mandam, o alguém da caneta carimba. E têm razão os senhores do poder, são eles os órgãos soberanos.
Já tem dois parasitas que o vão roendo; agora em acréscimo sente a culpa que o abraça por estar doente. O senhor soberano mostra-se indignado quando o caso vem à baila como o animal feroz, a besta quadrada, e distribui promessas ao maior dos parvos, sim, parvalhões, dos portugueses, os toscos.
Na realidade não se pode convencer ninguém a tomar partidos contra, quando as coligações e uma voz sonante unificada já está minada pelas guerrinhas partidárias, dessas demonstraçõezinhas dubiamente individualizáveis mascaradas de orgulho e afirmaçãozinha nacional, desses conflitosinhos pequeninos muito pequenininhos, caganitinhas.
Deparei-me com este vídeo no blogue do artigo, pujante de carga expressiva e análogo à situação a meu ver.
Confundi a associação do mesmo com o que pensei ser o perfil da pessoa doente. Confundi-me, no entanto quero relevar, escrevendo este artigo sobre a confusão e sobre a associação tão próxima a de eu, tu, ele, nós, vós, eles.
Mas persigo a minha reacção totalmente naive sobre a primeira impressão. Este foi o texto que resolvi escrever como forma de expressão sobre o eventual caso:
Alguéns e números às nuances do vento do escapulir da consciência. Esse português com quem eu falo e sorrio, esse que compactua comigo na indignação.
Esse alguém com quem eu falo e sorrio, que compactua comigo na indignação poderá assinar um papelinho por causa do chefe que assim o manda por ter sido mandado por aquele que o mandou que veio lá de cima do governo, assina o papelinho e o outro alguém esfarrapado, desalentado e fraquinho sente como se fosse uma espada que trespassa o resquício da vontade essa esferográfica soberana e viril que rasga, faz a penitência duma assinatura ou do baque do carimbo.
Dois passos depois esse alguém das esferográficas mete cuspo no dedo, trejeita o nariz compondo os óculos que escorregam, rumina para dentro que nada pode fazer, agarra noutro papel e põe em riste a esferográfica. Lamuria como quem geme quando fala, impõe-se escondido na capa do assim que é assim, e das ordens que recebe, tenta descobrir um calcanhar de Aquiles com quem fala, morde-o e prende-o por estar fraquinho à espera dum carinho social.
Justifica para si mesmo o defeito do outro alguém fraco, vale-se dos bons costumes e das morais e justiças divinas, sonda no seu inconsciente que existe alguém conhecido ou amigo que o valha nalguma situação mais periclitante de saúde - per si e para os seus. Alivia-se e baixa as orelhas ao chefinho da repartiçãozinha, mais o cargozinho e o carrinho e os inhos todos pelo recto acima.
O alguém mais acima borra-se nas cuecas de júbilo pelos doutores, roça-se nas calças em altiva subserviência, faz uma careta trágica à pergunta, compactua com a indignação, descarta responsabilidades, esmera-se na protecção da castidade da estatística isente, sua pela obediência e pela recompensa dum afago.
O outro vai para casa, desespera fundo, arrasta-se nos pés, sente-se órfão de pais, tenta descobrir lá nos fundos do absurdo uma razão para poder enfrentar uma hora de agonia. Recebe algum amparo de amigos, procura o momento da não existência pensante, carrega-se para a corrente do adormecer. Ouve outros alguéns na televisão que representam papéis de pessoas importantes, que se dizem e se fazem acreditar de senhores do respeito e do mais saber. Se elas mandam, o alguém da caneta carimba. E têm razão os senhores do poder, são eles os órgãos soberanos.
Já tem dois parasitas que o vão roendo; agora em acréscimo sente a culpa que o abraça por estar doente. O senhor soberano mostra-se indignado quando o caso vem à baila como o animal feroz, a besta quadrada, e distribui promessas ao maior dos parvos, sim, parvalhões, dos portugueses, os toscos.
Na realidade não se pode convencer ninguém a tomar partidos contra, quando as coligações e uma voz sonante unificada já está minada pelas guerrinhas partidárias, dessas demonstraçõezinhas dubiamente individualizáveis mascaradas de orgulho e afirmaçãozinha nacional, desses conflitosinhos pequeninos muito pequenininhos, caganitinhas.
Deparei-me com este vídeo no blogue do artigo, pujante de carga expressiva e análogo à situação a meu ver.
Confundi a associação do mesmo com o que pensei ser o perfil da pessoa doente. Confundi-me, no entanto quero relevar, escrevendo este artigo sobre a confusão e sobre a associação tão próxima a de eu, tu, ele, nós, vós, eles.
Zé, depois, deste momento, no qual li este teu texto, clarissimo,e com que me identifico plenamente; sei que és PESSOA!
ResponderEliminarEm seguida vi o video, fantástico, que me deixou sem comentários ( adoro Erik Satie)...
Finalmente, e definitivamente és um ser inteligente e muito sensível tb!
Aliás a tua energia chinesa ñ mente ; és um Poderoso! E até sabes....