As pegadas de Laetoli

Introdução

Desde que a ciência e a religião se separaram como azeite e água, que o mito de um adão e duma eva deu lugar a uma evolução do hominídeo para o homem, que os dogmas deram lugar à refutação e ao empirismo e a antropologia tem vindo a tentar desmelindrar o percurso evolutivo de um primata que qual crisálida ainda se encontra em fases de metamorfose potencialmente caminhando para alguma coisa que não se saiba o quê - a Humanidade constata que o Homem é criança e o conhecimento que possui tanto é imensamente pequeno como no entanto é um conhecimento que não se esgota à medida que se vai apurando.

O criacionismo tem vindo a debater-se com a ciência, procurando actualizar ou encaixar aqueles conceitos religiosos que outrora bacocos agora pretendam argumentar-se com a mesma validade de um argumento racional e lógico. Um dos seus argumentos - O Homem é a máquina de Deus, e a inteligência do ser humano o indicador de uma existência de inteligência superior (como definia Descartes, somente a concepção humana de algo infinitamente superior já é vestígio do próprio sopro de Deus e por conseguinte da sua existência).
Tal como a religião está inundada de erros, também a ciência possui paradoxos sobre paradigmas considerados previamente assentes; em paleantropologia debatem-se as pegadas de Laetoli por romperem com um conhecimento dado como factualmente adquirido.


Lucy - Australopithecus Afarensis

Lucy ( Australopithecus afarensis) um dos hominídeos mais antigos com cerca de 3,2 milhões de existência foi considerada como o mais arcaico elo evolutivo do Homem por aquela que foi até à data uma das mais caracterizadoras e idiossincrática referência humana - o bipedismo. Lucy não era no entanto exclusivamente bípede mas recorria parcialmente à posição erecta ao deslocar-se em meios diferentes, tal como inúmeras espécies que não pertencem à família dos primatas.

Os estudos e os debates apontam para que a família Australopithecus afarensis alternasse entre a postura erecta e uma forma locomotora nas árvores. Estabelece-se que a mutação da forma da planta do pé é forte indicadora da evolução do Hominídeo de acordo com o meio ao qual se vai sedentarizando. À medida que deixa as árvores e que se vai tornando bípede, o pé chato vai ganhando uma curvatura típica do homem moderno como uma suspensão que amortece um peso acentuado pela força da gravidade em pé e que balança ou locomover-se erecto. Uma planta do pé delineada por uma acentuada concavidade é sinónimo de locomoção erecta estabelecida.

As Pegadas de Laetoli









As pegadas de Laetoli são descobertas pela importantíssima arqueóloga antropóloga Mary Leakey e rondam os 3,7 milhões de anos indicando que três hominídeos (mais correctamente - Hominini) de portes diferentes caminhavam lado a lado, conjecturando-se registos de uma "família" não apenas pelos diferentes tamanhos das pegadas, como pelas pegadas mais pequenas justapostas com as maiores. Quase que delineiam um excerto de filme em que uma criança hominini brincava sobrepondo o seu passo ao dos adultos. Presentemente atribui-se estas pegadas a homínideos da espécie de Lucy - Australopithecus afarensis, por terem sido encontrados vários vestígios de ossadas da espécie nas proximidades.

Mas tal associação é motivo para refutação: pois a espécie de
Lucy ainda é considerada um dos mais antigos elos humanos, as pegadas de Laetoli são muito mais antigas do que as suas ossadas e Lucy não era integralmente bípede. Entre Lucy (3,2M) e as pegadas (3,7M) separam-se aproximadamente 500 000 anos o que é estrondoso e imensamente distante.

No decurso da caminhada não existem marcas dos outros membros que poderiam indicar a alternância entre a posição erecta e a quadrúpede, as pegadas apresentam uma curvatura acentuada na planta do pé e o
hálux ou dedão (dedo grande do pé) está estendido ao nível dos outros dedos completando o quadro de que os hominídeos que registaram as pegadas eram efectivamente bípedes, tal como o homem moderno - confronta-se que as criaturas tinham mais de genes Homo do que de homínídeo argumentando-se que o Homem é portanto mais antigo do que 3,2 milhões de anos.

As
pegadas de Laetoli continuam a suscitar acesos debates sobre a antiguidade da espécie humana.

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